quinta-feira, 24 de março de 2011

Entrevista com Tiago Santiago, autor de "Amor e Revolução"

É a primeira vez que trabalha ao lado de Reynaldo Boury? Como está sendo esta parceria?

Tiago Santiago - Sim, é a primeira vez que trabalhamos juntos. Estou muito feliz com a nossa parceria. Reynaldo Boury é um grande diretor, realizador de grandes sucessos da TV, um campeão de audiência, de comprovada competência. Ficou muito tempo afastado das novelas no Brasil por ser pessoa da confiança de Boni, que se afastou do comando da TV Globo. Tenho certeza que vamos fazer uma bela novela juntos. Nossa afinação beira à perfeição.

O período da ditadura militar no Brasil vai dos anos de 1964 a 1985. Por que decidiu fazer uma leitura dos anos de 1964 a 1971, especificamente?

Tiago Santiago - Vou começar a contar a história em 1964, mas não tenho certeza ainda em que ano vou terminar(risos). A intenção é narrar a história de personagens diretamente ligados ao tema da ditadura, a favor ou contra, como militares, guerrilheiros, torturadores, artistas, jornalistas, advogados e estudantes nos anos mais brutais da repressão. É possível que avancemos até a guerrilha do Araguaia, no começo da década de 70.

Quais os maiores desafios que enfrenta para escrever uma novela de época com um assunto tão profundo, abordando questões políticas, sociais e ideológicas?

Tiago Santiago - É uma responsabilidade muito grande, porque muita gente sofreu, foi torturada, desapareceu, e sobreviventes e familiares de desaparecidos querem ver a história bem contada. As antigas gerações, que de uma forma ou de outra, acompanharam o que aconteceu também vão ter um olhar atento para o que estamos fazendo. Existe a necessidade constante de pesquisa, apuração de fatos, também porque estamos contando esta história do Brasil para as novas gerações, que escutam falar sobre a ditadura, mas sem saber o que se passou.

Como aconteceu a ideia de retratar o tema da ditadura militar em uma novela?

Tiago Santiago - A ideia surgiu pela primeira vez quando ainda trabalhava como colaborador na TV Globo, e o saudoso Herval Rossano já queria me promover a titular de novela, mas eu concorria com quem tinha muito mais experiência do que eu, e não conseguimos emplacar lá, naquela época.

Por que a ditadura?

Tiago Santiago - Por várias razões... É um período muito importante da História do Brasil, muito rico em conflito, que é a mola mestra da dramaturgia. E é um tema que havia sido muito pouco abordado em novelas. Na verdade, esta é a primeira vez que uma novela usa a ditadura como tema principal, com foco na trama central. E é uma oportunidade de ver como pessoas foram capazes de doar ou arriscar as próprias vidas para lutar por justiça social, confrontando um poder armado muito maior e mais poderoso, e também de observar como seres humanos podem se corromper ao ponto do sadismo e da barbárie, no caso dos torturadores.

Como foi o processo de pesquisa para escrever a novela?

Tiago Santiago - Sou bacharel em Ciências Sociais e tenho Mestrado em Sociologia, pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, e este background acadêmico foi de grande valia. Desde a aprovação do tema pelo SBT, tenho lido literalmente dezenas de livros sobre o tema, além de entrevistar e buscar depoimentos de pessoas que viveram os acontecimentos.

Você buscou impressões, opiniões, orientações e sugestões com quem viveu naquela época?

Tiago Santiago - Sim. Temos sistematicamente colhido depoimentos de ex-guerrilheiros, políticos da época, familiares de mortos e desaparecidos, artistas e advogados de prisioneiros políticos. Esses depoimentos serão mostrados em edição condensada dos trechos mais emocionantes, de dois minutos, após a exibição de cada capítulo.

Você passou quanto tempo se preparando para de fato escrever o primeiro capítulo?

Tiago Santiago - Toda minha vida de brasileiro de 47 anos interessado no assunto e alguns meses de pesquisa dirigida especificamente para isso.

Em sua pesquisa teve uma história que mais te marcou? Qual e por quê?

Tiago Santiago - Muitas histórias são impressoinantes. As histórias de Maria Amélia Telles e Rose Nogueira me levaram às lágrimas, porque é terrível pensar na situação de mulheres, mães, torturadas, com suas crianças ameaçadas. Outro episódio terrível foi o do espancamento brutal do Bacuri (Eduardo Collen Leite), retirado da cela para ser morto, com olhos arrancados e várias outras barbaridades, cometidas às vésperas da libertação de presos políticos, para evitar sua saída do país. A história de Carlos Eugênio Paz (codinome Clemente), que conheceu o Marighella com 14 anos, serviu ao Exército para se preparar para a luta armada, desertou e acabou se tornando comandante militar da ALN (Ação Libertadora Nacional) também me impressionou muito. Há vários outros depoimentos que me marcaram muito.

Para construir os personagens você se inspirou em personalidades que viveram aquele período? Se sim, quem e por quê?

Tiago Santiago - Os personagens da novela são ficcionais, porém simbólicos. Os personagens da vida real, dos acontecimentos da História do Brasil - como João Goulart, os generais ditadores, líderes da luta armada - são citados, porém não tenho a intenção de retratar cenas das vidas destas pessoas simulando a realidade, porque em uma novela de 180 capítulos, no mínimo, é preciso inventar muito, e não poderia fazê-lo se fosse apenas reconstituir fatos vividos por pessoas da vida real. Maria Paixão é uma líder do movimento estudantil que vai para a guerrilha. José Guerra é um militar que deserta para se juntar à luta armada contra a ditadura. Lobo Guerra é um general da linha-dura. Aranha é um delegado torturador do DOPS. Batistelli e Jandira são líderes da luta armada. Não posso dizer que os personagens sejam inspirados em uma ou outra pessoa, em particular. Houve muitos estudantes que foram para a luta armada, muitos militares que ficaram contra o golpe, muita gente na linha-dura, muitos torturadores. Não cabe dizer que a Maria ou a Jandira sejam inspiradas na Dilma Rousseff, mesmo que lutem contra a ditadura como a atual presidenta lutou. Não é real que o José Guerra seja inspirado no Lamarca ou que o Batistelli seja inspirado no Marighella e o Aranha no Fleury, ainda que haja coincidências entre personagens; porque as personagens são ficcionais, simbólicas e têm vida própria. Qualquer semelhança será mera coincidência.

É um passado relativamente recente na história do nosso país, mas obscuro e pouco falado. Você encontrou apoio e resistências? Acredita que tem uma plena abertura para obordar o tema?

Tiago Santiago - Sim. Tenho tido liberdade total para contar esta história, sem sofrer quaisquer pressões, além do desejo de todos que viveram os fatos de ver a história bem contada. E isto é um dever meu, como profissional e como ser humano interessado em fazer jus aos mártires que deram suas vidas na luta contra a ditadura.

Como acha que os telespectadores vão receber Amor e Revolução?

Tiago Santiago - Tenho sentido imenso interesse dos espectadores, o que me faz pensar que acertamos na mosca quando escolhemos o tema da luta contra a ditadura para esta novela. Não quero cantar vitória antes da hora, mas acredito em um grande sucesso. Aposto que vai ser uma novela marcante, inesquecível, um espetáculo, de profunda observação do melhor e do pior que existe na humanidade, com direito a uma viagem no tempo, um passeio emocionante pela história do nosso povo, em um de seus momentos mais radicais.

Amor e Revolução traz uma grande história de amor. Quais são as agruras que o casal protagonista vive para assumir este amor?

Tiago Santiago - Muitas. Maria Paixão é de uma família de comunistas. José Guerra é militar, trabalha no centro de inteligência do Exército, e é filho de um general da linha-dura. Apesar de José ter convicções democráticas e se colocar a favor da legalidade, contra o golpe, o amor deles é praticamente proibido, impossível, como um Romeu e Julieta na época da ditadura. A partir da metade da novela, depois do AI-5, em 1968, José Guerra deserta do Exército e se junta à luta armada. A partir daí, o casal passa a ser intensamente perseguido pela brutalidade da repressão.

Quais as mensagens que Amor e Revolução traz aos telespectadores?

Tiago Santiago - Como em todas as minhas novelas, há uma mensagem de amor, como força capaz de mudar e recriar o mundo. Acredito que ver na “telinha” a história de uma geração que queria mudar o mundo, ao ponto de arriscar a própria vida, será muito inspiradora para a juventude atual. E os horrores da ditadura serão relembrados com força, como um alerta para que jamais se repitam. Por outro lado, a tortura será denunciada como problema cultural endêmico e recorrente no Brasil, dos tempos da formação do país até os dias atuais.

Você viveu a época da ditadura? Quais as lembranças que tem do período? Algo do que viveu te inspirou a colocar na novela?

Tiago Santiago - Sim. Nasci em 1963, um ano antes do golpe. Vivi toda a infância, a adolescência e o começo da juventude sob o tacão da ditadura militar. Sei o que é viver sob a ditadura. Minha família era de classe média, ninguém foi para a luta armada, mas todo mundo odiava a falta de democracia. Em 1977, com 14 anos, cheguei a participar de reuniões da Convergência Socialista, levado por meu irmão Gerardo, que então tinha 17 anos.

No decorrer da trama será citado fatos, datas e leis que marcaram este período? Quais e por quê?

Tiago Santiago - Sim. Citaremos todos os eventos, fatos, datas e leis que marcaram este período, a partir de 1964, até o fim da novela. O primeiro encontro dos protagonistas, por exemplo, acontece durante o incêndio da UNE, no dia 1º de Abril de 1964. A autodenominação de Costa e Silva como Comandante Supremo da Revolução, os Atos Institucionais, as cassações, os expurgos, a posse do general Castelo, sua morte, a ascensão da linha-dura, o decreto de extinção da UNE, a lei Suplicy de Lacerda que tentou conter o movimento estudantil, são alguns dos eventos citados durante a novela. Outros, como a guerrilha do Caparaó, a posse de general Costa e Silva, a morte do Edson Luis, a guerra da Maria Antonia, o Congresso da UNE em Ibiúna, os sequestros de diplomatas e as libertações de prisioneiros políticos, as mortes, apenas para citar alguns eventos mais importantes. Os acontecimentos marcam passagens de tempo, e são passos na radicalização do regime, que leva a escalada dos confrontos e conflitos vividos pelas personagens da novela.

No Congresso Nacional é aguardado um debate para a elaboração e criação da Comissão Nacional da Verdade para investigar abusos cometidos durante o regime militar. Qual sua opinião a respeito desta Comissão?, o que coincide com o período que a novela vai ao ar. Houve algum planejamento?

Tiago Santiago - Sou a favor da verdade, sempre. Não houve nada planejado. Houve uma coincidência, uma sincronicidade. Porém gosto de pensar que de alguma forma os depoimentos que vamos mostrar podem dar força aos trabalhos da Comissão e a este novo momento importante para a história do nosso povo.

Como você define Amor e Revolução?

Tiago Santiago - Uma grande novela, um épico, uma história de intensos amores e conflitos, vividos na época da ditadura e sempre de alguma forma relacionados a este tema.

Assessoria de Comunicação SBT

Um comentário:

  1. Eu acho que o Tiago Santigo e todo o elenco estão de parabéns pela novela ,mas mesmo assim a novela ainda precisa de algumas mudanças,porque eu acho que não tem nada a ver querer separar a Marcela e a Marina porque desde que começou a novela a Marcela só ficava dando em cima da Marcela e porque querer separar as duas logo agora que a Marina está apaixonada pela Marcela,e também nada a ver Marcela e Mário. tem que ser Marcela e Marina.afinal de contas vocês escritores escrevem as novelas são para o público assistir,e também não custa nada atender um pedido do público ou custa?e também a maioria dos telespectadores querem que as duas fiquem juntas no final da novela.
    Parabéns a você Tiago Santigo e também a todo elenco da novela pela excelente novela.
    Um enorme beijo de uma telespectadora que assiste a novela Amor e revolução quase todos os dias.

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